Aprenda a receita do prato tradicional do são joão, a canijca de milho com o Chef Vando. A receita da canijca de milho é muito simples: milho verde ralado, açúcar, manteiga, leite de coco. Como condimento, o cravo e a canela.
Apesar de muito amada por vários cantos do país, esse prato típico não é de origem brasileira, e sim uma herança cultural vinda, a princípio, da África. A especiaria foi muito consumida pelos escravos, uma vez que era mais barata e fácil de fazer.
Na região Nordeste do Brasil o prato é conhecido como canjica, enquanto nas regiões de cultura caipira e no interior do estado do Rio de Janeiro é denominado sobretudo de cural e papa de milho. Já na cidade do Rio de Janeiro é chamado de canjiquinha.
O milho é um ingrediente muito usado na produção de diversos pratos da longa tradição da culinária brasileira. Muitos países utilizam da iguaria em suas receitas, trazendo dúvidas quanto a raiz da origem da canjica.
Receita de canjica de milho
Ingredientes:
- 12 espigas maduras de milho
- 1 litro de leite
- 250g de açúcar
- 600g de creme de leite
- 200g de leite condensado
- 2 colheres de sopa de margarina ou manteiga
- Sal a gosto
Modo de preparo:
- Limpe as espigas de milho e retire os grãos, bem rentes ao sabugo.
- Coloque no liquidificador e junte o leite e o açúcar.
- Bata bem.
- Passe por uma peneira fina.
- Leve ao fogo, mexendo sempre até levantar fervura.
- Adicione o leite de coco e a margarina Primor e continue cozinhando e mexendo para não pegar no fundo.
- Cozinhe por cerca de 10 minutos ou até que comece a borbulhar soltar da lateral da panela.
- Despeje em 5 taças individuais ou em uma travessa média.
- Espere esfriar e polvilhe com a canela em pó.
- Sirva em temperatura ambiente ou gelada.
Modo de servir:
Colocar em uma vasilha e aguardar 50 minutos – é o tempo em que a receita vai leva para ganhar solidez. Pode-se acrescentar canela sobre a canjica pronta, que também pode ser servida pura, com coco ou usando a criatividade.
Origem da canjica de milho
O sociólogo Gilberto Freyre (Casa grande e senzala. 48. ed. São Paulo: Global, 2003), foi um dos primeiros a se debruçar sobre a origem da canjica. Conforme ele, a canjica é prato de procedência nativa. Enquadrar-se-ia na lista das contribuições culinárias dos índios ao cardápio nacional.
A canjica, ao lado da moqueca, da paçoca, do mingau, do beiju, da carne moqueada, seria uma deliciosa herança dos Tupinambá, índios brasileiros que habitavam o litoral, quando da chegada dos europeus nos começos do século 16. O estudioso recifense concebe a canjica como sendo derivada do termo tupi “acanjic”. Infelizmente, Freyre não indica a fonte da sua explicação etimológica.
A favor da tese do autor, temos o fato de que o milho, matéria-prima principal da canjica, é cereal de comprovada origem sul americana. Todavia, contra a tese de Gilberto Freyre, se levanta o depoimento taxativo de uma testemunha colonial: Frei Vicente do Salvador (História do Brasil. 6. ed. São Paulo: Melhoramentos, 1979). Em 1627, o religioso, tratando da relação dos índios com o coco, recém introduzido na terra, diz que os silvícolas “só os comem e bebem a água (…) sem os mais proveitos que tiram [do coco] na Índia”.
Contrapondo-se à explicação dada por Gilberto Freyre, temos a opinião de estudiosos da língua portuguesa. Para estes peritos, o termo canjica não é indígena, veio importado da África junto com os escravos. Para Nei Lopes (Novo Dicionário Banto do Brasil. Rio de Janeiro: Pallas, 2003), o termo que batiza o nosso prato junino tem origem no quicongo, língua falada no Congo e Angola. O dicionarista vê no termo canjica uma metamorfose de “Kanzika”, papa grossa de milho cozido.
Mário Eduardo Viaro (Por trás das palavras: Manual de Etimologia do Português. São Paulo: Globo, 2004), professor de Língua Portuguesa na Universidade de São Paulo, é outra autoridade a defender a procedência africana do termo canjica. Viaro, como Nei Lopes, acredita que o nome chegou até nós por meio dos escravos africanos.
O autor deriva o termo português canjica das línguas bantas quimbundo e umbundo, faladas, sobretudo, em Angola. Conforme Viaro, canjica advém de “Kanjica”, nas línguas mencionadas significa papa. No entender do especialista, o quimbundo e o umbundo “são as mais representativas [das línguas africanas] nas etimologias do português”.
Antes de Nei Lopes e de Eduardo Viaro, um outro perito brasileiro já havia atribuído origens africanas ao vocábulo canjica. Aludo ao etimologista Antenor Nascentes (Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1937). O famoso estudioso viu na canjica brasileira uma herança procedente da África. No parecer do ensaísta, canjica é vocábulo oriundo do quimbundo “língua da família banta falada em Angola pelos ambundos”. Canjica, diz o autor, vem do quimbundo, “Kandjica”.
O filólogo Antonio Geraldo da Cunha (Dicionário Etimológico Nova Fronteira da Língua Portuguesa. 2. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986) também tentou decifrar o enigma etimológico da canjica. Cunha se distancia tanto da hipótese ameríndia quanto da africana.
O perito entende que canjica vem de uma outra palavra portuguesa. Para ele, a origem de canjica é o termo canja. O termo viria de Kanji, termo da língua malaiala falada na região de Malabar, sudoeste da Índia e que significa “arroz com água”. Assim, conforme os estudioso, o nome de batismo da canjica tem origem asiática.