Ernst Götsch vai reflorestar um deserto na Arábia Saudita

Ao desenvolver técnicas que reconciliam a produção agrícola com a regeneração da paisagem no Sul da , , cientista suíço se consagra como “criador das águas”. Chamado de mago da floresta ou criador das águas, ele vem disseminando a –uma espécie de agricultura agroflorestal – como uma forma de resgatar áreas degradadas.

Já fez isso com maestria na sua fazenda em , zona cacaueira do sul da Bahia, em 350 hectares de terra. Agora ele está pronto para encarar o grande sonho: reflorestar o deserto.

Ernst Götsch

Há quem diga que um dos grandes segredos para não envelhecer (ao menos de espírito e mente) é ter um propósito. Isso pode ser uma boa receita de realização e felicidade. Cientista avesso à academia e com uma personalidade obstinada, Ernst Götsch tornou-se figura conhecida entre agrônomos, profissionais da terra e principalmente para quem acredita em uma cultura sustentável.

Sim, é isso mesmo que está escrito, por mais estranho que pareça. Götsch ganhou uma concorrência e deve ir para a . Ele está entre os 15 cientistas escolhidos para a missão. Os detalhes da negociação ainda estão sob sigilo, porque o contrato ainda não foi assinado. Mas já se sabe que os participantes devem pegar o avião em janeiro próximo. “Imagine o tamanho do desafio. É um dos lugares com menor precipitação de água do mundo”, conta o cientista suíço com a animação de um garoto de 12 anos que está prestes a partir para a Disneylândia.

Quando Göesch resolveu mudar para o Brasil, em 1984, o primeiro passo foi usar o dinheiro que trazia para comprar uma fazenda – que se chamava Fugidos da Terra Seca – e reflorestá-la, seguindo teorias muito próprias. Vale explicar aqui que ele nunca frequentou uma faculdade. “Fui expulso três vezes porque não concordavam com a minha filosofia”, revela. Mas não o confunda com um agricultor simples, apesar de até ser na aparência, pois se trata de homem que estudou muito e testou tudo que viu no campo da agronomia.

“Ele tem uma robustez teórica muito grande. É um cientista no stricto senso da palavra. Desenvolve milhões de hipóteses e testa cada uma delas. Não consigo imaginar nada mais científico do que isso”, diz Felipe Passini, jornalista que acompanha o trabalho de Göesch desde 2006. Proprietário de uma fazenda em Casimiro de Abreu, no Rio de Janeiro, o jornalista sempre manteve um pé na comunicação e outro na terra. Na época, Passini ouviu falar do trabalho de Göesch e quis conhecê-lo de perto. “Nunca tinha visto nada parecido”, diz ele. O jornalista ficou cinco dias na propriedade e só comeu coisas da fazenda. “Saladas, raízes e biomassa que pareciam a melhor coisa que já havia comido. Passei a ter certeza de que realmente a terra dá tudo e quem estava me ensinando isso era um suíço”, diz.

Quando Eernst comprou as terras Fugidos da Terra Seca tinha 480 hectares no total, sendo 130 ainda de mata pouco explorada. “O último proprietário era madeireiro, devastou a maior parte da propriedade (350 hectares)”, explica Göesch. Ele limpou os 17 córregos, que nascem na fazenda, sendo que 14 estavam assoreados. Tirou o lixo do solo e afofou a terra a cada 30 cm. Depois contratou 70 pessoas para fazer os berços para o plantio com o enxadão. “Eu seguia atrás dos trabalhadores jogando as sementes de diversos tipos de plantas.” O suíço explica que quando você planta da maneira certa, não é preciso fazer mais nada. “Eu joguei as sementes. Os pássaros e demais organismos fizeram o resto.” Depois de dois anos, as terras dele estavam reflorestadas e todos os rios cheios de água e, até por isso, a umidade da região aumentou.

Enquanto o mundo discute técnicas mais sustentáveis de agricultura, Göesch ensina a milhares de pessoas que todos os ser vivos, mesmo os micro-organismos, são importantes na terra. É a sincronia entre eles que permite o cultivo sem pragas e sem pesticidas e fungicidas. Göesch já deu aula no Embrapa, consultoria na Natura, em Singapura, Costa Rica e em várias fazendas de cacau– uma delas inclusive do Movimento Sem Terra, que conseguiu recuperar a área invadida degradada com as técnicas de Göesch.

Durante dois anos, ele participou do Centro de Formação de Agricultura Sintrópica do Rio de Janeiro, com sede na fazenda de Passini, que virou um discípulo dele. Atualmente Passini está Puglia, na Itália. Foi chamado para lá porque as oliveiras do local estão secando e o proprietário quer resolver o problema com a agricultura sintrópica. “Ninguém acredita, mas Göesch planta tudo junto e a técnica dá certo”. Segundo Göesch é mais uma questão de filosofia de vida. “Quando existe abundância, a paz reina na natureza e todos colaboram”, afirma.

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